A universalidade e a maleabilidade da linguagem publicitária.

A propaganda da indústria de cigarro pode ser usada como exemplo para a análise do papel da publicidade em diferentes sociedades.
Propaganda de cigarro na União Soviética. (Allposters)

Propaganda de cigarro estadunidense, datada do ano de 1935. (Allposters)

Essas imagens são fruto da publicidade de marcas de cigarro, respectivamente, da União Soviética e dos Estados Unidos. Numa rápida análise dos elementos que as compõem pode-se identificar alguns pontos em comum: ambas usam jovens garotas para divulgar a marca e até mesmo as cores se apresentam de maneira parecida: o fundo vermelho e as roupas em preto e azul. Dessa maneira, o consumo do tabaco é propagado através da mesma idéia em países com posições políticas e valores opostos.
Não se pode negar como essa oposição existiu de fato; contudo, esses cartazes publicitários utilizam técnicas muito próximas para impactar e chamar atenção do consumidor em lugares diferentes. Pode-se entender então que a publicidade mantém uma linguagem, de certa forma universal, para captar seu público alvo, devendo ser questionada na medida em que influencia os hábitos da sociedade em que é produzida.
Se anteriormente destacou-se a “universalidade” da linguagem publicitária, que é capaz de ser entendida em lugares diferentes ainda que apresente a mesma lógica e tenha em vista o mesmo objetivo, as duas imagens seguintes poderão mostrar como um conteúdo de mesma natureza, pode ser colocado de maneiras diferentes, moldando-se a interesses divergentes.

Propaganda americana de cigarro apresentando a imagem de uma mãe e seu bebê.
(www.advertisingarchives.co.uk)

Imagem de alerta, do Ministério da Saúde Brasileiro, aos consumidores de cigarro, colocada atrás dos maços vendidos no Brasil.
(www.estadao.com.br/fotos/9(1).jpg)

A primeira imagem mostra um bebê recém nascido juntamente com sua mãe para apresentar os benefícios do New Philipp Morris, enquanto a segunda mostra um feto prejudicado pelos males do cigarro, provavelmente consumido pela mãe durante a gestação.
A partir disso é possível perceber que os interesses da marca americana e do Estado brasileiro, em momentos diferentes, são defendidos com imagens de mesma natureza, as quais representam vidas novas e sensíveis, contudo o mesmo produto é colocado como influência positiva em uma ocasião e negativa na outra.
Essas duas rápidas análises de elementos da propaganda de cigarro em diferentes períodos e lugares possibilitam que nos questionemos sobre a relação que o produto publicitário mantém com o dia-a-dia da sociedade e especialmente com a juventude de uma época. São características sutis, mas que possuem grande impacto, pois a todo o momento apresentam-se veiculando interesses. E a imagem do jovem é colocada dentro da publicidade protagonizando esse jogo de interesses, visto que ele é o consumidor em potencial que, ao se ver representado por uma marca, identifica nela algumas de suas verdades e tendências, as quais são utilizadas pelos meios publicitários justamente para incitar essa identificação, mas sempre calcada num interesse: o consumo.

O que se nota, ao analisar o mundo da propaganda, é que o ideário político é abstraído dele. O que vale é conquistar o freguês, mesmo que o discurso fuja do mundo dos negócios. A propaganda política, por exemplo, analisada aqui com os cartazes da segunda guerra mundial, não reflete nas conseqüências das ações autoritárias dos diversos regimes diante da juventude. Pelo contrário, só tenta conquistar essa juventude. Nota-se que, apesar de toda a sua rebeldia, nos anos 30 e 40, essa juventude perdia o seu referencial de expectativa (principalmente com a crise do autoritarismo), e acreditava piamente em diversos discursos, mesmo que esses fossem abomináveis.